Qual sommelier nunca escutou a pergunta: Qual é o melhor vinho para se tomar? Ao escutar essa pergunta, me resta somente responder com outra pergunta: Para o que você está me convidando?
Quando pensamos em tomar um vinho, geralmente queremos dividir esse momento com alguém especial: a família, amigos(as), companheiro(a). E para isso queremos que este seja o melhor vinho possível. Porém a ocasião pode ser tão diversa quanto a imensa quantidade de rótulos disponíveis, que sempre confundem o conviva!
A verdade é que não existe O melhor vinho para se beber. Existem vários bons vinhos várias opções e possibilidades de sucesso. Contudo um mesmo bom vinho pode ser espetacular ou não tão especial assim. Por vários motivos: harmonização com a comida servida, gosto pessoal do degustador, clima (e podemos citar ambos: meteorológico e estado emocional das pessoas).
Você pode imaginar um jantar intimista com a família, um vinho tinto encorpado, com bastante estágio em barrica de carvalho, de um bom valor monetário, que você até já experimentou para se precaver, assim garantindo que nada dará errado: ótimo vinho! Porém na mesa está aquele prato de carne de siri, que também você já, provou e aprovou. E no fim das contas acaba decepcionando-se. O que aconteceu foi uma desarmonia entre o que se bebe e o que se come. Ou então… No mesmo jantar o prato principal era uma boa carne vermelha de preparação perfeita para o vinho. E… aquele assunto familiar espinhento toma forma e corpo, desce mais rápido que a comida e pronto! Lá se vai o sabor do vinho, da carne, tudo fica indigesto! A harmonização estava ótima, mas o momento se quebrou e você tomou o vinho mais para engolir palavras do que para apreciá-lo. O vinho é ruim? Não necessariamente! Ficou deslocado somente.
Vamos a praia, parque, piscina, tá calor? Brancos, rosés, espumantes, tintos leves. Vamos para encarar os dias “vento suli” e maratona de série com o “mozão”? Um bom tinto, encorpado, às vezes jovem, às vezes mais evoluído, vai da vontade do momento. É uma baita festa de arromba, com baile e tudo, ou comemoração discreta? Espumantes de todos os tipos, de doces aos mais sérios, há muitas opções. Aquela TPM de amargar: com chocolate, pote de sorvete e bolsa de água quente pra cólica? Vinhos fortificados doces: Porto, Jerez PX, Banyuls… Ou festinha para bater papo e conhecer gente? Um tintinho descompromissado, sem maiores pretensões…
O mundo do vinho é tão vasto que temos opções para tudo e para todos. Com um pouco de interesse, estudo e, claro, bastante experimentação, vamos compreendendo o que combina e o que nos agrada.
Assim, me deliciando com as aventuras enogastronômicas da vida eu repito: Para o que você está me convidando, mesmo? Assim eu posso lhe dar uma direção! Mas já aviso, não há O melhor vinho.
Uma coisa deve sempre permear a nossa avaliação. O que vai (ou não vai) acompanhar o vinho, quem vai nos acompanhar no vinho, qual a ocasião geral, e o seu gosto pessoal. Sim conta sim, todos temos as nossas preferências. E não temos porque negá-las. Como profissional, deixamos de lado nossa predileção e avaliamos de forma técnica os vinhos que estudamos, para justamente poder indicar direções aos clientes. E isso inclui levar em conta o gosto de seu cliente, além do prato que ele escolheu, ou se vai à praia ou subir a serra.
Mas para o apreciador de vinho, toda garrafa aberta é uma questão de curiosidade, experiência e possibilidades. Qual é o convite mesmo?
Daiana Castro
Diretora Executiva ABS-SC
Sommelière e Bióloga
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